ALMA BARROCA II (train3): Maria Bragança + Dudu Lima + Marco Lobo (film Joao Diniz)
A U R O R A
e eles foram despertados
pelos ruídos da noite
silêncios profundos
e sonhos
pelos sons da aurora
pássaros motores
ponteiros
pelas ideias nascentes
dizeres futuros
caminhos
pelo rompante lucido
invento surpresa
trabalho
pelos saberes vindouros
estudos pesquisas
próprias
pelo sonoro afago
balada matina
andante
pela vontade ativa
pessoa desperta
batalha
e eles foram despertados
pelo súbito colapso
pulsante na pausa
fatal
pela saudade doida
vivida passada
ausente
pelas palavras da mente
duvidas desejos
e magoas
pelas ilusões vaidosas
imagens forçadas
das sombras
pela fgura cativa
espelho volátil
e falso
pelas invejas vigentes
ocultas ativas
avulsas
pelos impostos valores
forjado principio
da venda
pelas disputas fugazes
emoções tardias
e rivais
pelo apetite danoso
vontade escrava
do vicio
pelo soberbo caráter
superior altivez
da posse
e eles foram despertados
pela natureza sábia
regente coesa
e vital
pela permuta possível
tolerado consenso
viável
pelo coletivo buscado
aldeia tentada
e mais justa
pelo espaço sufoco
cidade tormenta
doente
pelo balanço rompido
num cego golpear
irado
pelo campo minado
pálida verdura
veneno
pelo florido olfato
hipótese cromática
da vida
e eles foram despertados
pelas mazelas do dia
tramoias marcadas
em crimes
pelos desmandos do tempo
nas mortais traições
e ataques
pelas mentiras propostas
nas vazias campanhas
polidas
pela imprensa opaca
verdades forjadas
em truques
pelo estrondo de ódio
um letal torpedo
mirado
pela injusta jornada
na vilã proposta
escrava
pelo domínio da crença
imposto pecado
do medo
pelo informe gritado
ensino postiço
do poder
e eles foram despertados
pelo faminto sujeito
vagante pedinte
na rua
pelas pobrezas alheias
flagelos fraternos
por perto
pelos humanos remotos
distantes carências
nossas
pelo espirito ligeiro
mística viagem
da fé
pelo humilde animal
interno atento
em si
pela amizade presente
conversa permuta
diária
pelo risonho percurso
num serio critico
humor
pela infância crescente
descoberta pureza
ternura
pelo imediato querer
energia volátil
da paixão
pelos amores surpresos
sensíveis e breves
carinhos
pela volúpia física
latente impulso
tesão
pelo durável contato
próximo intimo
afeto
e eles foram despertados
pela solidão precisa
saudável retiro da
invenção
pela entrega noturna
restauro compasso
do sono
pela dadiva do dia
regalo vivente
e curto
pelo período repouso
íntima dinâmica
da luz
pelo disposto levante
insone ímpeto
de ser
pelo sincero silencio
constante partida
adeus…
joao diniz 2014
A situação chama & clama por atenção. O caminho só o é se percorrido, e a história, se escrita… Liberada a memória da obrigação de grafar o que acredita, incita a mão, que não mais aflita, se agita e escreve. O dito é o que fica.
…
A experiência é fortuna própria & confirma o vivido no tempo que acontece. Intento ou acaso, cada dia é capitulo a ser lembrado. A pessoa é o seu registro, a todo instante, sua vontade de gravar e a marca de seu esquecimento.
…
Corpo na água, quase sem gravidade, flutua no considerado mar das hipóteses solares do dia e na brisas de sua fé. Num mergulho continuo em ondas turvas, o pensamento persegue suas marés.
…
Tempo: continuo fluxo abstrato e aliado ao pulsar de um ritmo alado. Contagem de silêncios & notas & falas, além do passado e futuro uma escala que não se cala.
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Espaço mede passo & numero & área & volume. A quantidade não soma o reto agir e o arco da pausa, ao acaso de encontros vários, sagrados ou ordinários.
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Natureza é tudo o que vale. A montanha, a sanha de mudar & crescer, ser nascido & fazer valer o ciclo-período breve & vital que vem de repente vai afinal.
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A oferta não sobra na generosa festa do querer & doar, & no raro gesto aberto que guarda a amostra do amparo, evento correto do cuidado.
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A espera repara a pressa, a tempestade antecipada exagera a necessidade da hora. O livre não para na demora que duvida & decola.
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A ilha navega no trovão & no vento & na asa da chuva & do ar. A ilha chama o farol-luar que esclarece a solidão do barco no humano vagar.
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O outro é o espelho, alvo do olho, simétrico reflexo de si onde (se) acha a metade semi pronta do ser (ou não ser?) que nunca se toma. Uno e múltiplo exemplo do encontro e da soma.
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Fogo ar elemento terra água sol, a cena móvel, cíclica roda do criar & destruir. Orgânico pendulo em linha, suspiro queimante na sequencia do equilíbrio que se busca em um novo giro.
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Treva, ausência, vácuo, choro escuro sem eco ou acolhida. A distancia é dolorida, um furo no ser que nega o seu centro e a dupla voz da luz sonora, na conversa de almas pares, a clarear o encontro.
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Construir o engenho que rompe a inercia obvia do repouso frágil que detém. O traço inventado desperta o branco num infinito possível em linha e letra. O projeto antevê o risco de levar adiante o desafio do instante: driblar o erro, abraçar o certo, fixar breve mente…
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A voz buscada em si, distante do corpo próprio, é acompanhante da pessoa certa, nascida em você e que quer se ver no correto mirar da estrada adiante no próximo passo ou no calado salto. A escuta acorda um eco interno, frágil chamada.
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Paraiso não é garantia, mas cenário da crença no eterno ou na recompensa por um julgado ato. Aqui na terra é no quase, feliz ou triste, mas sabe? O instante não ressuscita mas se contenta em ser assim, imediato.
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Na leitura a retina é humilde e visa reter o que o coração vai ler no mosaico de palavras que o autor quis trazer com sua mão & mente. Cada pagina é um rumo a conceber o volume que se tem à frente.
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A jornada é nada se comparada ao jogo das horas. Minuto a vir é demora, minuto que é foi agora & os que já eram são estórias. Curtas, encadeadas, justas, inventadas, ouvidas, desencontradas… Conto de fada, balada, toada a imprimir pulsação. Em cada medo diário a direção é contraria.
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O começo é o salto do berço alto do conforto, ao sobressalto de empreender o esforço. Ao que vai ser é nada a intenção parada na só-ideia da ação que quer deixar seu porto.
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Silencio absoluto da tarde, pio, motor, alarme. Som que propaga na voz do vale com seus cantos. O calar é um intento traduzindo o vento, musica pessoal, contentamento, alegria… O espaço é a nota que busca a sinfonia do dia.
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O registro da ideia é o fluxo do momento que abre a veia do pensamento guardando para mais adiante o que nasce breve, fazendo constante a imagem do imprevisto, para ser revista.
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O meio: equidistante extremo, eixo central da trilha, a metade da pilha, o pedaço igual, duas partes do todo, o ser & seu duplo. Para além do espelho é um pulo, um afeto, onde uma linha divide os lados do completo.
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Tudo ou nada, nada & tudo. Do infinito ao zero, um exagero, do justo em contragosto, do falso desafiado, os muitos matizes da totalidade. Quem nada tem, tem tudo, quem tudo tem, tem nada. Precisar, ganhar, acumular, compartilhar, entregar, doar, a matéria, a mão de obra, a falta & a sobra, o valor & a renda, a verdade & a lenda, do produto descartado… tudo, tudo tem um preço inventado.
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Entre o sono e o sonho, janela entreaberta, aurora, luz nova, primeiros sons diários. Lençóis imaginários, brancos e escuros tons moveis da noite com seu texto errante. O que esperar do dia? Solar, distante, fugaz, diferente? Faça chuva ou faça céu, a lua é um véu, superior anel, de estrelas e instantes.
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Observar adiante da vista a conquista de algum acaso que inspira o ar surpreso de qualquer hora. A atenção é a ponte num rio de fatos, um fio que liga, saber e ato, aula breve, imediata, lição nata do dia que vai embora.
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Estiagem, será curta? Entre trovões, dilúvios, desmandos, absurdos; os pássaros anunciam, próximos e distantes. A névoa se desfaz. Entre duvidas, tentativas, vendavais, invernadas. Ágil é o jato solar. Entre trevas, tristezas, tropeços e desmaios. Uma luz traz alento, até o próximo raio.
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Flui a música a fazer marcas no tempo. Com respeito, brilha no silencio, a modular o infinito, dando graça ao segundo e ao minuto. Do lá absoluto ao acorde-melodia, cada qual tem o seu canto, & seu som no espaço & no passo que vira dança. Lição do pássaro: piar, voar livre, bailar no ar o intento, bater no ar e soar, a canção e o lamento.
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Diária onda, a cada giro do sol 24 compassos horários a quem conta o passo das coisas e anota. Carta a si mesmo, caderno de viagem, dialogo frequente, constante passagem. Maré, jornal, seção; notívago, turno, estação; inerte, diurno, refeição; vesperal, breve, coleção; eterno, ritmo, canção… Orgânica rotina, nativo costume, vivido lance, ativo balanço. Uma jornada em ócio, festa ou negócio, súbito obstáculo, do segundo e do século…
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joão diniz / brasília-gamboa s.c. dez 2013 jan 2014
FUTEBOL DO PAÍS
O país do futebol não é mais o mesmo.
O futebol oficial e mercadológico dos estádios, da TV, das glorias passadas e dos títulos históricos, é substituído pelo futebol das várzeas, dos colegas que jogam após o serviço, e compram seu próprio uniforme e suam suas camisas por prazer.
Marcílio Gazzinelli nos apresenta nesta série de fotos uma face humana, individual, e até solitária, deste esporte das multidões. A bordo do helicóptero atento, entre fotos industriais e geográficas, o seu olhar múltiplo é tocado pela força espontânea dos vazios urbanos, multifuncionais e necessários.
Estes vazios aparecem como os últimos locais de resistência à uma ocupação indiscriminada dos espaços, onde é possível aliviar as tensões sociais diárias nas geometrias informais ou geológicas que demarcam o solo separando o choque entre a cidade disforme e o bailado dos jogadores que se divertem com seus lances.
O ponto de vista aéreo revela algo talvez menos perceptível ao nível do chão: a agilidade brasileira em celebrar o espaço deserto do campo de pelada como palco de uma vitalidade tão instantânea como um gol, e tão anônima como o drible que o cidadão comum dá em suas mazelas.
Em um desafio a uma percepção contraposta à sedução midiática dos grandes eventos milionários, esta paixão esportiva nacional pode ser transmutada substituindo o foco sempre dado ao ‘país do futebol’ pela importância humanitária do ‘futebol do país’, onde seu povo é sempre bom de bola.
João Diniz, março 2014
o press release:
JOÃO DINIZ no SARAU DO MEMORIAL
O arquiteto João Diniz apresenta a performance multimídia ‘Cidades Visíveis’ no projeto Sarau do Memorial no Memorial Minas Gerais Vale em Belo Horizonte, no domingo 24 de novembro em duas seções às 11:00 e 13:hs.
A performance que une poesia, fotografia, vídeo e música, acontece para marcar o lançamento do novo livro de João Diniz o ‘Visible Cities’ que é um relato em fotografia e texto poético de 14 cidades por ele visitadas no Brasil, América do Norte e Europa (ou sejam: Paris, Nova Iorque, Rio de Janeiro, Lisboa, Montreal, Cracóvia, São Paulo, Roma, Varsóvia, Barcelona, Brasília, Sofia, Miami e Gdansk).
A apresentação contará com a presença de João Diniz que fará leitura de textos do livro junto com a jornalista Daniella Zupo, serão também apresentadas fotografias da edição e sons compostos pelo autor. A projeção das imagens ficará por conta de Renata da Matta e Isabel Diniz e a curadoria do projeto Sarau do Memorial é de Wagner Merije.
Este trabalho propõe um diálogo com o conhecido livro ‘Cidades Invisíveis’ de ítalo Calvino onde este autor italiano descreve cidades inexistentes e imaginárias e pode também ser entendido como uma abordagem possível de ser feita por qualquer pessoa que queira interagir com cidades e espaços diversos. Desta forma a performance e a edição podem ser entendidas como um ‘procedimento itinerante’, uma proposta aberta e interativa.
O livro é uma edição bilíngüe (português/inglês) de 420 páginas com fotografias, textos e projeto gráfico do autor, tradução e tratamento de imagens de Luiza Ananias (bolsista Fumec) e colaboração de Carolina Araújo (bolsista Fumec) e Isabel Diniz. Textos do posfácio por Marcílio Gazzinelli, Fábio de Carvalho, Carminha Macedo, Marcelo Xavier e Álvaro Gentil. Edição da transBooks, apoio do programa Propic da Universidade Fumec e pode ser visualizado na íntegra e adquirido no link http://br.blurb.com/b/4425225-visible-cities
A jornalista Patrícia Cassesse do jornal ‘Hoje em Dia’ de Belo Horizonte me surpreendeu ao me pedir uma entrevista escrita, com perguntas que achei bem boas. Então respondi ao seu email com o texto abaixo, o que gerou a bela matéria na edição do cadernos de cultura do jornal em 24/11, com direito a capa e página interna.
1) São 14, as cidades visitadas… Como se processou a escolha de cada uma? Vc foi a turismo (digo, motivado por uma vontade de conhecer especificamente esses centros) ou a trabalho? P q há, neste rol, cidades que são consideradas turísticas, mas outras, nem tanto… Como foi parar em Gdansk, por exemplo?
2) Como esse projeto foi se delineando em sua cabeça? Como “as costuras” foram feitas, como se processou essa ideia de dialogar com Calvino? Alguém te sugeriu, era uma leitura antiga que veio à sua mente?
3) Bem, essa pergunta “entrega” que ainda não deu tempo de conferir o livro pela internet, mas vamos lá… como vc estruturou essa junção de fotos e textos poéticos?
4) Gostaria que “temperasse” essa conversa online com uns dois casos dignos de nota ocorridos nessas suas incursões pelo mundo, que reverberaram em seu trabalho… Casos curiosos, engraçados, talvez tristes…
E, claro, João, fique super à vontade para acrescentar o que julgar pertinente (sorry, mas, assim como a cidade onde vc nasceu, preciso perguntar: quantos anos vc tem?)
Me conta que não és um número
Me conta que não és um conto
Me conta que isso é profundo
Me conta que não és um sonho
…
Me conta não vai ser só uma
Me conta dois e dois são cinco
Me conta que é maior a soma
Me conta que é muito mais
…
Me conta que assim é único
Me conta que não vai zerar
Me conta que perdeu a conta
Me conta que não vai contar
…
Me conta que é o infinito
Me conta que é p’rá somar
Me conta que não é p’rá menos
Me conta vai multiplicar
…
Me conta que é convergente
Me conta além da medida
Me conta que é na sequencia
Me conta que é circular
…
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10… conte
…
Me conta que foi dividido
Me conta que não vai faltar
Me conta que não teve resto
Me conta que pode sobrar
…
Me conta que estás a mil
Me conta que está tudo dez
Me conta não é meia boca
Me conta que vai ser total
…
Me conta que somos um par
Me conta que é muito impar
Me conta dois somos a trinca
Me conta que vai acertar
…
Me conta que não tem limite
Me conta que é uma potencia
Me conta que é um produto
Me conta foi bom resultado
…
Me conta que é na medida
Me conta que não é demais
Me conta que é breve o tempo
Me conta não vai demorar…
…
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10… conte
…
joão diniz 2013
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