Archive for the ‘ poesia / poetry ’ Category

W O R S H I P

Here to worship

.

your will to say

the colors of your eyes

the freedom of your faith

your tolerance for the diverse

the presence of your God

your openness to the unknown

the polyphony of our voices

and our limits

.

Here to worship …

.

the agreeable prayer

the offering candles

the cult of harmony

the rituals of joy

the non-violent believers

the priests of equality

their lessons without authority

and celebrations without celebrities

in the belief that does not impose

.

Here to worship …

.

the leveled altar

the multiple rosary

the cross of meeting

the bells of dance

the open mysteries

the chapels of peace

the religions without temple

the temples without arrogance

the places that invite

spaces of understanding

in the possibilities of the sacred

.

Here to worship …

.

the collective supper

the diving into wine

the intercontinental blood

and the bread of frugality

of the spiritual body

philosophy of health

amplitude of spirit

comfortable heart

in true sensations

omnipresent perfume

the multidirectional passion

the resistant nature

the generous city

the solidary country

the human beauty external and internal

.

Here to worship …

.

the sensitive brain

the productive affliction

the conscious delirium

the Instant poetry

the artistic trance

the curiosity of the soul

the eternal discovery

the creators of dialogues

architects of hope

smooth transcendence

mandala of enchantment

on the registered contemplation

.

Here to worship …

.

the lullaby choral

the psalm polyglot

the accessible chant

the inclusive mantra

the improvised prayer

the friend disciple

of the faithful in surprise

and gentle master

guru of good humor

monk in the crowd

wiseone in doubt

with humble wisdom

in voluntary initiation

writing the essential book

.

Here to worship…

.

the collective light

the sanctity of childhood

the constant baptism

the daily wedding

the human family

the saints’ neighbor

in the sensitive bath

of the reversible guilt

and the abolition of sin

in the generous forgiving

of the spontaneous penalty

of the quiet justice

and provisional death

of the life in each moment

in the unknown past

and in the future of now

on the inferiority of time

.

Here to worship …

Joao Diniz, in a Bulgarian road, May 2012

Á B A C O: arquitetura da palavra

A editora Asa de Papel e João Diniz apresentam o livro ´Ábaco´ com poemas inéditos onde o autor revela sua produção poética desenvolvida paralelamente à arquitetura e outros meios de expressão a que se dedica numa perspectiva interdisciplinar por ele batizada de transArquitetura.

Embora o livro seja a sua primeira publicação especificamente ligada à poesia, João já lida há tempos com esta linguagem seja na descrição e concepção de seus projetos – onde em seus dois últimos livros, ´Depoimento / coleção Circuito Atelier´ de 2007 e ´Steel Life / arquiteturas em aço´ de 2010, adota uma dicção exclusivamente poética – seja no comando do projeto coletivo Pterodata onde cria paisagens sonoras recheadas de textos, falas e canções, ou na publicação sistemática em diversos espaços da internet.

No livro estão poemas escritos em diversas épocas e locais estruturados em cinco capítulos temáticos numa progressão independente de visões, ou sejam: ´Verbo´ onde estão as reflexões em torno da linguagem poética; ´Senso´ com meditações em torno de afetos humanos; ´Ofício´ abordando uma ação artística expandida; ´Passo´ descrevendo andanças e espaços e ´Gesto´ propondo leituras e ações possíveis em um tempo convulso.

O título ´Ábaco´ se refere ao milenar instrumento de cálculo, precursor pré-histórico dos atuais computadores, que sugeriu ao autor a idéia de uma ferramenta permutacional que constrói equações, ou perguntas, e que obtém resultados diversos gerando soluções  múltiplas.

O edição foi concebida pelo editor Álvaro Gentil junto com o artista gráfico Délio Esteves, o fotógrafo Marcilio Gazzinelli e o autor, no dinâmico espaço cultural do Café Book em Belo Horizonte onde um grupo de escritores, artistas e intelectuais se reúne freqüentemente num dialogo crítico e ativo em torno de questões diversas da política e da contemporaneidade definindo este café-literário como local gerador de várias edições de poesia e literatura, do jornal ‘Manuscritos’ e de idéias e projetos diversos.

Para breve o autor promete lançar em CD uma versão sonora deste livro ‘Ábaco’ com interpretações coletivas, orais e instrumentais, de trechos do livro envolvidos por melodias e ambientes sônicos.

O livro pode ser encomendado neste blog ou através do email joaodinizarquitetura@gmail.com.

Custo do exemplar: R$ 40,00

Leia aqui a revisão do livro Ábaco de João Diniz antes da impressão

Veja a seguir o vídeo sobre a produção e os lançamentos do livro no Café Book em 31/03 e na ZIP: Zona de Invenção Poesia &… em 15/04/2011 em Belo Horizonte

ARTE DE OBRA

ARTE DE OBRA


 

 

 

 

manuscrito original para o livro de mesmo nome da Ediora Manuscritos, lançado em 2010 com fotografias de Cristiano Machado e texto de João Diniz

1.

No princípio era a Natureza…

A natureza da vida, das formas e das cores,

princípio universal de movimento e de repouso,

causa final, inerente por si só e não acidental,

forma e substância daquilo que se torna único.

A natureza está na matéria como ordem,

na reunião gerada pela dinâmica do tempo,

na virtude superior manifestada nos objetos,

no sentido de direção nato do engenho humano.

Natureza é sinônimo de união,

fator de desejo e distinção decisiva,

uma lei do instinto, da razão e do pensamento

ativo fundamento dos primeiros cientistas,

que está presente no ritmado caráter matemático,

e na urgente necessidade inventora e transformadora

da ordem universal, indiferenciada e original.

Consoante e concordante consigo mesma,

ela sistematiza e conecta fenômenos,

dando nova forma aos ditames do acaso que são

descobertos pela experiência empírica e casual,

no regular pulso de tempo e espaço da existência.

2.

A Natureza reflete a alma da matéria,

exteriorizando a sua ideia de ser

na relação acidental de ordens eternas,

numa manifestação do absoluto e do espírito

em toda sua espontaneidade e liberdade.

Campo de observação da ciência e da arte,

ela está na linguagem cifrada do acaso

nas mensagens das eras e das línguas.

Para além dela só há imitações…

3.

A Arte a princípio estava ligada à ciência,

que é a sabedoria do necessário e do Natural.

Depois evoluiu deste orgânico ser universal

se apresentando como Arte do conhecimento,

da observação, da contemplação, do aprendizado;

e ainda como Arte da ação, da operação, da direção.

O engenho humano está embebido em Arte,

onde as atividades ordenadas separam-se da Natureza

passando a incorporar o hábito e a razão da produção.

Aí estão, como exemplo, as artes manuais e mecânicas,

ou mesmo a arquitetura, a engenharia e a medicina,

determinação da vontade, do gênio e da invenção;

que se contrapõem às leis universais da física, da matemática,

da química, da astronomia, dos mistérios, divinos ou não.

Assim a Arte pode ser entendida como ponte

entre a ciência e a experiência: uma compreensão nova.

E ela pode ser análoga e fabricar objetos, como na arquitetura

ou ser cooperativa e ajudar a natureza, como na medicina

ou ser prática e agir sobre os homens, como na música.

Distinguem-se também as artes liberais e as artes servis,

ou sejam, as que se alinham ao espírito da razão e da beleza

em contraste aos ofícios diversos da mecânica e do corpo,

onde a estética busca o prazer em representações várias

enquanto as máquinas cumprem operações de necessidades.

A Arte da Obra aparece como atividade ordenada

indicando a técnica ou a normatização dos procedimentos.

Esta técnica é a continuidade original do fazer artístico,

nela os homens conjugam deleite e sobrevivência

e definem as culturas e ambientes a que pertencem.

A técnica está sempre repleta de intenção e finalidade,

provém de um desígnio, de uma descoberta, de um projeto.

4.

Nas idades terrenas dos minerais e dos metais

a transformação define uma história escrita em fogo.

A evolução do raciocínio, diretor da intuição,

da inteligência e da lógica, conduz a caminhada.

Nos símbolos de cada tempo estão as possibilidades,

efeitos da ousadia e dos avanços que inauguram linguagens,

e apontam o futuro na tentativa e erro de cada ser.

5.

Universo de corpos em movimento: átomos, planetas,

refletidos na fusão siderúrgica dos artefatos novos

e no organismo mineral das ferramentas e das peças.

A ideia de uma nova harmonia, observada e modulada

está no dialogo das partes deste corpo férreo e frio,

aquecido pelo movimento, dinamicamente circular,

que sugere pulsação e fatiga, produção e repouso,

em uma órbita contínua que integra ideia e produção.

6.

Que a ordem harmônica de suas partes consoantes

não seja o repouso do seu espírito de sangue e ar.

Ao ordenar o sono dos metais em sua breve espera

os planos começaram a nascer gráficos e numéricos.

Não será infinita esta vitalidade de encaixes e toques,

que no realismo da máquina cumprirá o seu ciclo

numa vida útil ligada e desligada a cada seção.

7.

Por mais lógico e preciso que seja o projeto

sempre haverá uma surpresa nesta geometria.

Na impossibilidade do comando absoluto

haverá espaço para o raio de sol, para a brisa,

para a reflexão inesperada da cor e do espírito,

para o encontro azeitado entre o acerto e a critica.

A energia propulsora funciona forças diversas

num contínuo sempre previsto mas nunca perfeito.

8.

Gestos de membros vários tocam os controles

no momento exato da liberação dos fluxos.

O olho percebe a seta que indica o instante.

É a balada dos gases e dos líquidos comprometidos.

A sinfônica ideia que não pode falhar por otimismo.

A previsão positiva dos fatos será sempre ingênua

se antever somente o sucesso, ou o fracasso.

9.

Agente de transformações em sua existência,

engrenagem de ossos e veias e saliva e sonho,

não apenas uma peça viva nesta grande engrenagem

mas o sentido e alma de muitas conquistas.

O homem, e sua natureza mãe, será sempre o alvo

dos seus próprios triunfos e desmandos.

Sua emoção estará visível ao final de cada dia,

seu ofício será para si a vitalidade restauradora

ou o sacrifício opressor, o pavio da revolta.

O trabalho retorna à delicadeza da família

a produção colocada sobre a mesa de jantar.

10.

A Obra é o objetivo operador do indivíduo,

sua meta e alvo claro, produto e fim em si.

Mas na prática do caminho a marcha surpreende.

Nem todos têm o mesmo foco e intento,

um vê o céu, outro o vento, outro o pássaro,

o sol que gera a energia pode também queimar a planta.

Cada olho mira sua reta de intenções e possibilidades.

O panorama da natureza e da vida é amplo de espaços,

nele convivem a beleza, o desejo, o orgânico, o artificial,

e também o feio, o sórdido, o insano, o irreal, o podre.

Não será a primeira imagem que definirá o sentimento.

O contorno das formas esconde verdades relativas.

A validade das lições sempre pode ser questionada,

no bem que talvez produzem, nas in-certezas que geram.

O convite é para que por trás da figura e da voz

cada um busque seu retrato e seu texto.

As ideias estão abertas, nada é definitivo.

Um real artista não saberia dizer se sua obra de arte

sobreviveria ao tempo e ao entendimento dos outros,

mas sendo verdadeiro artista prosseguiria com arte

em sua obra de viver e ver o mundo com novo olhar.

POLSKANTOR a polish adventure

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http://www.blurb.com/books/896308

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QUEDA D’ÁGUA a liquid photography book


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http://www.blurb.com/books/1138676

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ÁBACO um livro de poesia por joão diniz

conheça o livro ‘Ábaco’ em fase de montagem e edição pela editora Asa de Papel e JD

faça download do arquivo preliminar do livro no link abaixo:

Ábaco

neste canto moderno

neste canto moderno

.

a casa é a letra

a rua é a frase

a cidade é o texto

o país a estória

.

não fomos medievais

clássicos ou góticos

o Brasil se descobriu

num toque de caravelas

.

mas antes já existiam

a floresta a montanha

as tribos e linguagens

uma paz interrompida

.

em tempos coloniais

capitanias e degredos

onda império flutuante

da coroa ultramar

.

as costas em monologo

metrópole que ordena

enquanto vozes descobertam

novo ouro interior

.

gerais são outras minas

de brilho e de sangue

não perde o que evolui

na trilha da liberdade

.

e na riqueza degredada

num soldo compulsório

o mundo se transforma

em industrias e ferrovias

.

o aço a velocidade

arranha-céu ponte pênsil

telegrafo e dirigíveis

transatlântico desafio

.

fenômeno modernidade

Europa em convulsão

nestas lutas de influências

e o mundo em atenção

.

do lado de cá na praia

na montanha ocidental

sambávamos com gosto

num tempo que era imposto

.

quem não é eterno

existe só no momento

em que nasce e delicia

a fruta do dia a dia

.

curto passado convém

ao desafio do presente

fênix recém nascida

numa chama tropical

.

a história instantânea

bem nova e já moderna

a bordo do século XX

ancora na sulamérica

.

na terra das guanabaras

guararapes alterosas

pampas amazônicos

plagas e serrados

.

re enxergar o barroco

a trova o rococó

com lente de velho mundo

em olho Xingu Tupiniquim

.

na depressão do pós guerra

e um governo autoritário

o concreto é ondulado

na trama contraditória

.

internacionais interações

com Bauhaus, Corbusier

Manhattan, Champs-Élysées

ibero américas e áfricas

.

heróis da epopéia

Warchavchik, Mario de Andrade

Tarsila, Villa Lobos

Artigas e Capanema

.

Lucio Costa, Drummond

Prestes, João Gilberto

Darcy, Caymmi, Pagu

Cardoso e Bernardes

.

Reidy, Guimarães Rosa

Bandeira e Artigas

Murilo Mendes, Radamés

Carmen Miranda e Pelé

.

Oswald e Maysa

Portinari, Niemeyer

Athos Bulcão, Burle Marx

JK, Vinicius, Tom Jobim

.

e muitos muitos outros

que são luz tão forte quanto

mas que ficam no seu canto

brilhando por própria conta

.

todos com sua sina

lições do Aleijadinho

soar a nação mestiça

para si e para tantos

.

dos locais da invenção

do Rio bossa nova

de São Paulo industrial

Curral não só d’el Rey

.

nós do norte este sul oeste

críticos e regionais

atenção que reflorece

pós Pampulha e Brasília

.

nossa roupa é a pele

indígena, negra, mulata

branquela, nipo, cristã

portuguesa e pagã

.

alma é a coragem

neste país do futuro

(e de presente convulso)

de explodir esperanças

.

cansadas de aguardar

e promover as mudanças

com materna sabedoria

nestes passos de agora

.

será tolo o otimismo

do que veste para a festa

e logo de saída

leva uma bala na testa?

.

será justa a ira

de quem reclama de tudo

calando seu próprio grito

que impõe e não propõe?

.

faz sentido tanto amar

e ao mesmo tempo odiar

o sal de hoje e amanhã

na terra que é sua mãe?

.

vestir e comer

a pátria e a gente

a roupa é o corpo

a pele e a fome

.

encontro de partes

de escuta e falas

a tolerar construir

em grupo as diferenças

.

melhor da roupa é despir

passar para fora a alma

sentir do vestido de cor

uma luz no coração

.

moderno é modo

um mote a mais

muito mais que moda

um mito quiçá um moto

.

o Brasil é moderno

o Brasil é de novo

o Brasil é seu povo

o Brasil é de hoje…

.

nesse canto de mundo

um cântico que entoamos

com a fé deste segundo

e um sentir de muitos anos

João Diniz, 02/04/2011

o texto acima foi publicado no suplemento ‘Mosaico’ do jornal Hoje em Dia de BH, no domingo 24/04/11, que tratou de arquitetura moderna e moda através dos trabalhos de Athos Bulcão e Ronaldo Fraga.


Sete Sonhos Urbanos, uma aventura literarquitetônica

SONHO 1: O VÔO

Era só querer, a linha do horizonte descendo, o corpo ganhando altura, perdendo peso. A cidade transformada em um mapa, e os campos em um quadro verde de tons múltiplos.

Era necessário cuidado com os fios, com as grimpas e com as copas. Aproveitar o vento sem fazer nenhuma força seria lógico, a gravidade derrotada pelo pensamento, pela vontade.

Havia controle da velocidade ao avançar, a planta da vida passando toda abaixo. Casas, prédios, bairros, rios, um desenho com sombras lógicas, tudo conhecido e esperado, mas nunca visto deste angulo.

Aprendi a voar com essas asas do querer, imediatas. Não será sempre, mas será possível esse prazer geográfico, de durante o sono, possuir a terra e o ar.

SONHO 2: A MÁQUINA

Do computador fui direto para a cama no quarto escuro com o clarão da tela ainda impresso por traz do olhar. Deitado no breu as imagens permaneciam visíveis. De olhos fechados poderia ver bem as luzes internas da busca de um arquiteto.

Um novo projeto pedia para acontecer e aos poucos ia sendo domado e revelado nas linhas eletrônicas multicores que definiam cômodos virtuais. As respostas vinham com as dúvidas, buscando soluções, empurrando a mão, o pensamento, o mouse, gerando planos tridimensionais que inauguravam novos espaços. Com a chegada do sono o brilho não se apagou. A vibração da máquina permanecia no cérebro e as imagens continuavam a ocorrer na escuridão.

De repente estava dentro desse desenho mental.  Á medida que percorria os espaços imaginários, os dava forma, textura, cor. Era um jogo interativo de sentir e criar instantaneamente. O ato de projetar integrado ao desejo inconsciente. Um hall, uma escada, vazios, materiais, a clareza das soluções era incrível. No mesmo fluxo foi possível ganhar a rua, continuar o planejamento imediato da cidade que se transformava na mira de cada olhar ativo.

Os anos anteriores de reflexão foram suficientes para que as propostas se materializassem com eficiente clareza. Os transeuntes pareciam aprovar o recém nascido edifício, e também as novas calçadas, praças e ruas que apareciam e indicavam o caminho do dia que despertava bruscamente.

Um relógio soa com a luz matinal. O corpo voltava ritmado aos movimentos da manhã. O computador estava desligado ao lado. A cabeça um pouco confusa. Esta não havia sido uma noite de descanso tranqüila. O lápis em cima da mesa, os vários papeis impressos e riscados na noite anterior aguardavam inertes.

Sem mais demora, ligado o botão a tela se iluminou, o olhar matinal se deita sobre as imagens, com algumas modificações os desenhos buscariam encontrar as soluções antevistas há pouco no inconsciente.

SONHO 3: O CORPO

Era uma névoa rubra e morna. O corpo sentia um estranho prazer epidérmico misto de constrangimento e gozo. A vontade era sair dali, correr para longe, mas havia uma provocante sensação de desafio e de transgressão.

Seria apenas necessário assumir a própria imagem, encarar os olhos dos outros, dizer algo pitoresco e finalmente aproveitar a cena.

Uma estranha sensualidade dominava o momento na busca de carinho e de companhia. Tudo era rápido, a visão se detia em nada. Não era um tempo fixo, apenas o susto da própria nudez, inesperadamente defronte a todos, mistura de situação intima e pública, pessoal e urbana. Não exibicionismo, mas sinceridade.

Se os corpos se tocassem por fora as sensações seriam internas, uma excitação própria, um desejo de ser intenso. Os poros todos expostos ao vento e às vozes.

Eretos sonhos nas cavidades do sono. Liquidas noites de um erotismo irreal.

SONHO 4: A LIBERDADE

De repente vejo retidos os meus movimentos ao ser parado no meio da rua por falsos policiais gentis como touros em frente à capa rubra. Meus argumentos são inválidos e eles não têm justificativa para tão descarinhosa abordagem.

Uma sensação desconfortável, um crime que não cometi, uma culpa que não é minha. Desconheço o meu delito, rejeito estas algemas. Será que existe justiça, verdade, segurança e direitos?

O mundo tão cheio de canalhas e logo eu vitima destes brutamontes nacionais…

Serei refém da paranóia de tempos pós-revolucionário ou pós-lissérgicos? Terei que explicar atrás das grades os meus diálogos imaginários com Chê, Hendrix, Lamarca, Morrisson ou Marigela? Saberei confessar em detalhes os assassinatos, tráficos, guerrilhas, e assaltos que não cometi?

A realidade será diferente? Todos que estão realmente detidos ou livres merecem este estado? Continuo aqui constrangido em via publica, uma discussão interminável, um assunto que dura toda noite até que me sinta desperto deste constante pesadelo público.

SONHO 5: O SOM

Era quase um silencio noturno, mas mecânicas melodias percorriam o ar. Um trem apitava ao longe, alguns motores passavam velozes, distantes e irreconhecíveis palavras dialogavam lamentos, alguma ave, com seu canto aéreo anunciava o dia.

Sons dispersos, desconexos, de repente harmonizavam-se, confundiam-se, ritmavam-se. Alguma outra voz era introduzida num súbito grito. Aquela sinfonia na madrugada antecedia o diurno murmúrio urbano propondo uma obra aberta que duraria o quanto necessitasse.

Sentia-me um maestro, um compositor, poderia até arriscar uns versos para o coral de buzinas cantar esta suíte matinal de ruídos. A vontade maior era levar aquela performance espontânea para o mundo da vigília.

Naquele orgasmo sonoro sabia-se que em breve tudo estaria perdido. A cidade voltaria aos seus mesmos rugidos insistentes, cansativos, estressantes, o dia se estabeleceria num crescendo dissonante.

Restaria apenas manter o sonoro instante por mais um pouco, propor um gran finale, uma inesperada apoteose, antes do despertar.

Agora apenas texto talvez pudesse contar algo desta aventura musical…

SONHO 6: A MONTANHA

A vontade de conhecer o mundo ia sendo satisfeita naquelas noites de sono tranqüilo. Os sonhos eram roteiros de viagens e iam revelando locais, sugerindo para a memória desperta abstratos cartões postais onde desfilavam quase reais, lugares, pessoas, e até sons e odores. Cidades e paises com suas diferentes luzes iam compondo aquele álbum mental de momentos inéditos, e inesperadas descobertas.

A pequena ilha distante e sua alegre cidade costeira eram recorrentes nas dormidas mais confortáveis, revelando nitidamente seu mar profundamente azul; suas areias, pedras e faces intensamente negras; um idioma composto por um caleidoscópio de nacionalidades; e seus alimentos desconhecidos e saborosos.

O que mais chamava atenção era a animação da pequena metrópole. O final dos dias trazia a musica e a dança, os cabarés exalavam calor e satisfação, as ruas repletas cantavam a riqueza da alegria de viver uma liberdade desenhada numa ousada política de intercâmbios e protestos.

As visitas oníricas àquela cidade permitiam reconhecer seus belos edifícios, mas a visão mais impressionante era a grande e misteriosa montanha que se impunha majestosa sobre toda a ilha e que num ultimo sonho estava estranhamente envolta por uma bruma de cinzas e pedras que jorravam sobre as praias e telhados turvando a visão de todos.

Quando fui convidado a conhecer Saint Pierre da Martinica, no arquipélago das Antilhas, ressurgiram claras as lembranças daqueles distantes sonhos insulares, por incrível coincidência iria talvez rever os perdidos locais presentes naquelas noites de sono.

Ao chegar lá pessoalmente o sentimento de estar retornando ao lugar era muito forte. As ruas, as praias e a geografia pareciam familiares, mas havia uma diferença fatal: as principais construções eram ruínas de pedras escuras.

Todos ali comentavam que há mais de cem anos a grande montanha havia explodido. O vulcão soterrara quase todos os seus habitantes e aquela ex-bela cidade, que desde então, lutava para encontrar sua antiga felicidade e brilho.

SONHO 7: A LENDA

Em algumas noites a imagem é recorrente. Ao dobrar uma esquina de Belo Horizonte estou fora do tempo e me vejo numa viela medieval. A luz das tochas e os trajes revelam a súbita presença de uma outra época. Numa confusão de idades chego ao passado.

Ao lado da igreja gótica, um templo grego. Na larga praça renascentista, inscrições pré-históricas e um jardim zen com plantas tropicais. Algumas odaliscas dançam o samba, cortesãs cantam mantras safados enquanto uma orquestra de cordas afina os primeiros acordes de uma trágica sinfonia.

Um cavalo branco cruza as trevas num agouro desconhecido de datas e de fatos. Mais além estão as caravelas. Seus mastros tremulam no breu e uma frenética ação vem de dentro, com as velas içadas zarpariam de manhã num prenúncio de descobrimentos.

As tavernas iam silenciando enquanto a areia passa pelo funil de vidro e os pavios queimam tremulantes. Alguns vultos se apoiam uns nos outros. Uma coruja cruza o céu sublinhando com suas asas a crescente lua.

Passos sobre pedras, botas rudes traçando humanos caminhos. Envolto em uma capa negra corro insone. O travesseiro é um porto imaginado, a segurança invertida de um sonho.

Ao descer as escadas, o caos. A estação do metrô está repleta de fumaça e chamas. As pessoas apavoradas saem de uma bruma de terror, entre alarmes, estampidos e gritos, muitas sirenes interrompem o sono de todos.

Que estranha forma de acordar.

a poesia

O mundo, uma beleza / Miséria e natureza / Ação e apatia

Então a poesia

As pessoas, maravilhas / Amor e vaidade / Fé e hipocrisia

Saberão da poesia?

Arte é necessária? / Luz ou mercadoria / Gênio ou otário?

Questiona a poesia

Vida é cultura / Opinião ou propaganda? / Opção ou demagogia?

Resiste a poesia

O líder é verdadeiro? / Guerra na democracia / O lobo e o cordeiro

Uma força: a poesia

Mistérios da fé / Reza ou desistência? / Milagre ou ciência?

Liberta a poesia

Tempo é dinheiro / O preço de um dia / Só vence o primeiro?

Mais vale a poesia

Valores do saber / Debate ou liturgia? / Ensino ou poder?

Ajuda a poesia

Faces do sentir / Ódio e perdão / Carícia  dominação

Conquista a poesia

É pouco o poema / Buscando a harmonia / Suspeita é a rima

Se não há poesia

tanto

De tanto Queimar

Gelou

De tanto Pensar

Travou

De tanto Falar

Mentiu

De tanto Riscar

Apagou…

De tanto Chorar

Secou

De tanto Querer

Perdeu

De tanto Limpar

Marcou

De tanto Gritar

Abafou…

Cada vez mais precisamos de pouco

O ser mais simples é o ser mais solto…

De tanto Somar

Faltou

De tanto Pedir

Roubou

De tanto Contar

Zerou

De tanto Guardar

Confessou…

De tanto Brilhar

Cegou

De tanto Clamar

Negou

De tanto Atar

Cortou

De tanto Chamar

Afastou…

Cada vez mais precisamos de pouco

O ser mais simples é o ser mais solto…

joão diniz  2005