Arquivo para junho \28\-03:00 2014

ME – DITAÇÕES

me ditar

 

A situação chama & clama por atenção. O caminho só o é se percorrido, e a história, se escrita… Liberada a memória da obrigação de grafar o que acredita, incita a mão, que não mais aflita, se agita e escreve. O dito é o que fica.

A experiência é fortuna própria & confirma o vivido no tempo que acontece. Intento ou acaso, cada dia é capitulo a ser lembrado. A pessoa é o seu registro, a todo instante, sua vontade de gravar e a marca de seu esquecimento.

Corpo na água, quase sem gravidade, flutua no considerado mar das hipóteses solares do dia e na brisas de sua fé. Num mergulho continuo em ondas turvas, o pensamento persegue suas marés.

Tempo: continuo fluxo abstrato e aliado ao pulsar de um ritmo alado. Contagem de silêncios & notas & falas, além do passado e futuro uma escala que não se cala.

Espaço mede passo & numero & área & volume. A quantidade não soma o reto agir e o arco da pausa, ao acaso de encontros vários, sagrados ou ordinários.

Natureza é tudo o que vale. A montanha, a sanha de mudar & crescer, ser nascido & fazer valer o ciclo-período breve & vital que vem de repente vai afinal.

A oferta não sobra na generosa festa do querer & doar, & no raro gesto aberto que guarda a amostra do amparo, evento correto do cuidado.

A espera repara a pressa, a tempestade antecipada exagera a necessidade da hora. O livre não para na demora que duvida & decola.

A ilha navega no trovão & no vento & na asa da chuva & do ar. A ilha chama o farol-luar que esclarece a solidão do barco no humano vagar.

O outro é o espelho, alvo do olho, simétrico reflexo de si onde (se) acha a metade semi pronta do ser (ou não ser?) que nunca se toma. Uno e múltiplo exemplo do encontro e da soma.

Fogo ar elemento terra água sol, a cena móvel, cíclica roda do criar & destruir. Orgânico pendulo em linha, suspiro queimante na sequencia do equilíbrio que se busca em um novo giro.

Treva, ausência, vácuo, choro escuro sem eco ou acolhida. A distancia é dolorida, um furo no ser que nega o seu centro e a dupla voz da luz sonora, na conversa de almas pares, a clarear o encontro.

Construir o engenho que rompe a inercia obvia do repouso frágil que detém. O traço inventado desperta o branco num infinito possível em linha e letra. O projeto antevê o risco de levar adiante o desafio do instante: driblar o erro, abraçar o certo, fixar breve mente…

A voz buscada em si, distante do corpo próprio, é acompanhante da pessoa certa, nascida em você e que quer se ver no correto mirar da estrada adiante no próximo passo ou no calado salto. A escuta acorda um eco interno, frágil chamada.

Paraiso não é garantia, mas cenário da crença no eterno ou na recompensa por um julgado ato. Aqui na terra é no quase, feliz ou triste, mas sabe? O instante não ressuscita mas se contenta em ser assim, imediato.

Na leitura a retina é humilde e visa reter o que o coração vai ler no mosaico de palavras que o autor quis trazer com sua mão & mente. Cada pagina é um rumo a conceber o volume que se tem à frente.

A jornada é nada se comparada ao jogo das horas. Minuto a vir é demora, minuto que é foi agora & os que já eram são estórias. Curtas, encadeadas, justas, inventadas, ouvidas, desencontradas… Conto de fada, balada, toada a imprimir pulsação. Em cada medo diário a direção é contraria.

O começo é o salto do berço alto do conforto, ao sobressalto de empreender o esforço. Ao que vai ser é nada a intenção parada na só-ideia da ação que quer deixar seu porto.

Silencio absoluto da tarde, pio, motor, alarme. Som que propaga na voz do vale com seus cantos. O calar é um intento traduzindo o vento, musica pessoal, contentamento, alegria… O espaço é a nota que busca a sinfonia do dia.

O registro da ideia é o fluxo do momento que abre a veia do pensamento guardando para mais adiante o que nasce breve, fazendo constante a imagem do imprevisto, para ser revista.

O meio: equidistante extremo, eixo central da trilha, a metade da pilha, o pedaço igual, duas partes do todo, o ser & seu duplo. Para além do espelho é um pulo, um afeto, onde uma linha divide os lados do completo.

Tudo ou nada, nada & tudo. Do infinito ao zero, um exagero, do justo em contragosto, do falso desafiado, os muitos matizes da totalidade. Quem nada tem, tem tudo, quem tudo tem, tem nada. Precisar, ganhar, acumular, compartilhar, entregar, doar, a matéria, a mão de obra, a falta & a sobra, o valor & a renda, a verdade & a lenda, do produto descartado… tudo, tudo tem um preço inventado.

Entre o sono e o sonho, janela entreaberta, aurora, luz nova, primeiros sons diários. Lençóis imaginários, brancos e escuros tons moveis da noite com seu texto errante. O que esperar do dia? Solar, distante, fugaz, diferente? Faça chuva ou faça céu, a lua é um véu, superior anel, de estrelas e instantes.

Observar adiante da vista a conquista de algum acaso que inspira o ar surpreso de qualquer hora. A atenção é a ponte num rio de fatos, um fio que liga, saber e ato, aula breve, imediata, lição nata do dia que vai embora.

Estiagem, será curta? Entre trovões, dilúvios, desmandos, absurdos; os pássaros anunciam, próximos e distantes. A névoa se desfaz. Entre duvidas, tentativas, vendavais, invernadas. Ágil é o jato solar. Entre trevas, tristezas, tropeços e desmaios. Uma luz traz alento, até o próximo raio.

Flui a música a fazer marcas no tempo. Com respeito, brilha no silencio, a modular o infinito, dando graça ao segundo e ao minuto. Do lá absoluto ao acorde-melodia, cada qual tem o seu canto, & seu som no espaço & no passo que vira dança. Lição do pássaro: piar, voar livre, bailar no ar o intento, bater no ar e soar, a canção e o lamento.

Diária onda, a cada giro do sol 24 compassos horários a quem conta o passo das coisas e anota. Carta a si mesmo, caderno de viagem, dialogo frequente, constante passagem. Maré, jornal, seção; notívago, turno, estação; inerte, diurno, refeição; vesperal, breve, coleção; eterno, ritmo, canção… Orgânica rotina, nativo costume, vivido lance, ativo balanço. Uma jornada em ócio, festa ou negócio, súbito obstáculo, do segundo e do século…

joão diniz / brasília-gamboa s.c. dez 2013 jan 2014